Especialistas apontam subnotificação e falta de planejamento; Ministério da Saúde diz que entregou 70 milhões de unidades
A explosão de casos da Covid-19 no Brasil com o avanço da variante ômicron voltou a expor lacunas na estratégia nacional de testagem. Clínicas, farmácias e serviços públicos não conseguem atender a procura por diagnóstico.
Com atraso, o governo passou a discutir o uso do autoteste em casa, produto distribuído há meses em outros países.
Especialistas afirmam que há larga subnotificação de casos no Brasil. Os dados oficiais mostram 22 milhões de infecções desde o começo da crise sanitária, ou seja, cerca de 10% da população.
Estudo da Universidade de Washington projeta número maior: 47% se infectaram no Brasil ao menos uma vez até o dia 3. Seriam cerca de 98 milhões de infectados.
A instituição considera na modelagem diversos pontos, como dados oficiais com cruzamento de dados diários de rede social, deslocamento por geolocalização, taxa de circulação do vírus e tamanho da população.
“As pessoas não vão fazer teste se a oferta não for ampla. No Brasil, pela baixa testagem somente os casos mais sintomáticos e os mais graves são detectados”, disse Marinho.
“Com a simultaneidade da epidemia da influenza A [H3N2] e da variante ômicron, sem testes disponíveis está difícil distinguir entre uma doença e a outra”, afirmou.
O ministro Marcelo Queiroga (Saúde) aposta na entrega dos testes de antígeno, modelo considerado rápido e eficaz. A ideia é distribuir cerca de 30 milhões de unidades ainda em janeiro.
Os dados levantados pela universidade americana consideram a estimativa de infecções entre pessoas sintomáticas e assintomáticas. Nesse último caso, o paciente pode transmitir o vírus mesmo sem apresentar sinais da doença.
“O Brasil faz testes assistencialmente, quase de forma aleatória, sem critério algum. Além disso, há uma desigualdade gigante na testagem. As pessoas pobres têm menos acesso aos testes, embora tenham mais risco de Covid-19”, disse.
O Ministério da Saúde disse, em nota, que já entregou mais de 27 milhões de testes RT-PCR, além de 43 milhões de exames de antígeno.
Essas organizações apontam que até pacientes com sintomas da Covid podem não estar isolados pela falta de diagnóstico.
Em nota divulgada na quarta-feira (12), a Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica) alertou para risco de falta insumos necessários nos exames da Covid-19. A entidade recomendou priorização de exames a pacientes “segundo uma escala de gravidade”.
A Anvisa quer liberar o autoteste no começo desta semana. Queiroga sinalizou que o governo não deve entregar exame caseiro no SUS.
“O Brasil é um país muito heterogêneo, de muitos contrastes. A alocação deste recurso para aquisição de autoteste, distribuir para a população em geral, pode não ter resultado da política pública que nós esperamos”, disse o ministro à imprensa na sexta-feira (14).
Os especialistas apontam que o autoteste ajudaria a enfrentar essa nova fase da pandemia. Mas dizem que é preciso planejamento e educação para a população.
